Para aplaudir de pé: 8 mulheres que se destacaram na história do Brasil
Por: Jussara Loguercio / Idee Informação Corporativa
Em muitos lugares do mundo as mulheres ainda sofrem, nos dias atuais, as consequências do machismo estrutural que está impregnado, consciente ou inconscientemente, na sociedade. O levantamento Mulheres, Empresas e o Direito 2022, feito em 190 países pelo Banco Mundial, mostra que 178 nações ainda mantêm barreiras legais (algumas mais, outras menos) que impedem a participação econômica plena das mulheres na sociedade.
Ao nos aproximarmos de mais um Dia Internacional da Mulher, que em 2023 completa 112 anos de comemorações e reflexões, trouxemos 8 nomes e histórias de mulheres que formam um retrato das lutas que tantas outras enfrentam diariamente.
Elas foram únicas
Você já deve ter ouvido falar em Maria Esther Bueno, Maria da Penha, Glória Maria… e Nísia Floresta, Maria Quitéria, Rosaly Lopes? Elas estão entre os grandes nomes femininos do nosso país, que deixaram (e ainda deixam) marcas importantes na história brasileira pela representatividade e pioneirismo nas mais diversas áreas do conhecimento.
Escolhemos alguns nomes para representar milhões de mulheres brasileiras que lutam por causas que não são aceitas pela maioria, que fazem descobertas, que buscam espaço, voz e vez. Mulheres que marcaram (e ainda marcam) época e inspiram muitas realidades.
1. Maria Quitéria
Quando o processo da independência do Brasil iniciou, e os homens foram convocados a lutar, Maria Quitéria de Jesus (1792) ingressou, disfarçadamente, sem a autorização de seu pai, no Regimento de Artilharia que lutava contra as tropas portuguesas. Ela pegou emprestada a farda do cunhado e adotou o nome de soldado Medeiros.
Pouco tempo depois foi descoberta pelo pai, que exigiu que ela voltasse para casa. Mas, após intervenção do major do batalhão, que reconheceu sua habilidade no manejo de armas, permaneceu entre os soldados. Tornou-se a primeira mulher a integrar as Forças Armadas Brasileiras, que, atualmente, contam com mais de 34 mil mulheres.
Quitéria foi condecorada com a insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro pelo Imperador Dom Pedro I, sendo uma das heroínas da Independência do Brasil. Faleceu em 1853, em Salvador.
2. Nísia Floresta
Nísia Floresta Brasileira Augusta nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, em 1810, falecendo em 1885. Era educadora e foi a primeira feminista do Brasil. Publicou 15 livros em vida, sendo o primeiro escrito quando tinha apenas 22 anos com o tema “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”.
Acreditava que o ensino para meninas não deveria se limitar à costura e trabalhos domésticos. Por isso, atuou ativamente propondo reformas e lutando para que a educação das mulheres fosse uma preocupação do governo.
Nísia fundou um colégio onde meninas aprendiam sobre gramática, matemática, ciências e música. Viajou pelo Brasil e pelo mundo denunciando desigualdades entre homens e mulheres e lutando pela valorização do público feminino.
3. Chiquinha Gonzaga
Nascida no Rio de Janeiro em 1847, Francisca Edwiges Neves Gonzaga era neta de escravos. Pianista autodidata e compositora, deu vida a mais de 2 mil composições. Foi a primeira maestrina brasileira, estreando em 1884, e a precursora das marchinhas de carnaval com temas como “Lua Branca” e “Ô Abre Alas”, conhecidas até hoje.
Engajada na luta contra a escravidão, os direitos autorais e femininos, dedicou-se a campanhas sociais. Participava de festivais que arrecadavam fundos para a Confederação Libertadora – que lutava pelo fim da escravidão – e vendia suas músicas para comprar a alforria de escravos.
Faleceu em 1935. Em 2012, o dia do seu nascimento (17 de outubro) foi declarado o Dia Nacional da Música Popular Brasileira.
4. Zilda Arns
A catarinense Zilda Arns, médica pediatra e sanitarista, se destacou pelo seu legado social e humanitário: dedicou boa parte de sua vida para ajudar a salvar a vida de milhares de crianças que morriam de desidratação e desnutrição.
Em 2004, seu importante trabalho foi intensificado através da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, fundadas por ela e ligadas à Igreja Católica. Os principais objetivos de Zilda com as atividades das pastorais era combater a desnutrição infantil, a desigualdade social e a violência.
O trabalho da médica se expandiu por todo o Brasil e por mais de vinte países na América Latina, Ásia e África. Recebeu vários prêmios e reconhecimentos de entidades de todo o mundo, sendo indicada três vezes ao prêmio Nobel da Paz.
Zilda, que era irmã do arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, faleceu em 2010, quando estava na capital do Haiti, Porto Príncipe, que foi atingida por um terremoto.
5. Maria Esther Bueno
A tenista Maria Esther Bueno nasceu em São Paulo, em 1939. Começou sua carreira muito jovem e logo conquistou vitórias importantes no circuito mundial do tênis. Acumulou 71 títulos de simples (e outros tantos em dupla) e foi a número 1 do mundo em 1959, 1964 e 1966.
Em 1960, entrou para a história como a primeira mulher a ganhar um Grand Slam de tênis. Seu nome está também no Livro dos Recordes: na final do US Open de 1964, Maria Esther fez a partida mais rápida da história, vencendo em apenas dezenove minutos.
Em 1978 recebeu uma homenagem e teve seu nome incluído no Salão da Fama Internacional do Tênis, sendo a única tenista brasileira a conquistar esse feito. Conhecida como a rainha do tênis, é considerada o maior nome do tênis brasileiro. Maria Esther faleceu em 2018.
6. Glória Maria
Jornalista, Glória Maria Matta da Silva foi a primeira repórter negra a se destacar na TV brasileira e a primeira a entrar ao vivo na primeira matéria a cores do Jornal Nacional, em 1977. Também foi a primeira pessoa a usar a Lei Afonso Arinos no Brasil, em 1988, após ser vítima de racismo.
Ficou conhecida no jornalismo por entrevistar grandes nomes, como Carlos Drummond de Andrade, Freddie Mercury, Michael Jackson e Mick Jagger. Seu nome também está associado a reportagens especiais e viagens a lugares incríveis.
Esteve à frente do Fantástico de 1998 a 2007 e, mais tarde, passou a integrar a equipe do Globo Repórter (a partir de 2010), ambos programas da Rede Globo. Faleceu em 2023 em decorrência de um câncer no cérebro.
7. Maria da Penha
A farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes nasceu no Ceará em 1945. Ela foi mais uma das vítimas de violência doméstica no país, mas sua história rendeu frutos que ajudam milhares de outras mulheres atualmente. Ela dá nome à lei brasileira contra a violência doméstica e familiar, conhecida como Lei Maria da Penha, sancionada em 2006.
A nomeação foi uma forma de reparação simbólica do estado, que por tanto tempo foi omisso em relação ao agressor de Maria da Penha, que era seu marido. Ela foi vítima de violência doméstica durante 6 anos, sobrevivendo a duas tentativas de assassinato. A primeira foi em 1983, atingida com um tiro nas costas enquanto dormia, que a deixou paraplégica. Meses depois, o marido tentou eletrocutá-la e afogá-la. O agressor só foi preso em 2002, mas cumpriu apenas 2 dos 25 anos de pena.
Maria ainda escreveu o livro “Sobrevivi… posso contar”, lançado em 1994, e fundou o Instituto Maria da Penha, em 2009, com o objetivo de monitorar a aplicação da Lei e o desenvolvimento de outras políticas públicas de proteção à mulher.
8. Rosaly Lopes
A astrônoma, geóloga planetária e vulcanóloga Rosaly Lopes nasceu no Rio de Janeiro em 1957. Iniciou seus estudos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas concluiu da graduação ao doutorado na Universidade de Londres.
Rosaly entrou para o Guinness Book em 2006 como a maior descobridora de vulcões no espaço e hoje é uma das maiores especialistas em vulcões ativos do mundo. Ela já publicou 4 livros e atualmente é pesquisadora sênior da NASA.
Além disso, em 2018 tornou-se a primeira mulher – e a primeira pessoa não americana – a assumir o cargo de editora-chefe da renomada revista científica “Icarus”, que faz publicações de pesquisas em ciências planetárias.